domingo, 26 de julho de 2009

História de Peter

O documentário inicia com Peter chegando à escola. No início do filme, já de maneira extremamente preconceituosa, me coloquei no lugar da “coitada” da professora.
Parei o filme e analisei tudo o que eu estava pensando e posicionei meu pensamento como se fosse eu a professora em questão. Pensei em minha turma (barulhentos, mas ao mesmo tempo tão unidos), minha sala de aula, nas escadas, na falta de ajuda, na falta de trocas de experiências, nas reuniões corridas pela falta de tempo, na falta de pessoas capacitadas para ajudar. Arrepiei-me. Conclui: Não quero esta situação para mim!
Troquei de posição e me coloquei no lugar de mãe, mãe de Peter. E analisei tudo o que eu faria para a melhoria da qualidade de vida, seja mental, intelectual ou física de minha filha. Indignei-me só em pensar que minha filha não tivesse seus direitos respeitados. Conclui: Mãe é mãe sempre.
Coloquei-me no lugar de meus alunos e pensei em todos os problemas que de início apareceriam enquanto a novidade fosse novidade. Continuei a pensar em meus alunos, no quanto eles são puros de coração e receptivos a toda e qualquer situação, sem preconceitos, sem medo de novidade, abertos à aventura da vida. Pensei no quanto gostam de ajudar e a participar de todas as atividades. Teríamos problemas? Certamente. Por causa de Peter? Sim, mas também teríamos inúmeros problemas por várias situações, o que é comum em uma sala de aula que comporta seres tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Conclui: problema, só enquanto fosse novidade. Com o tempo Peter seria visto como um colega a mais. A turma com certeza o acolheria, sem maiores problemas ou traumas.
Dificuldade, medo, preconceito para lidar com situações novas e/ou diferentes não fazem parte do universo infantil. O adulto sim está fechado para o diferente, sente medo em não saber lidar com situações que possam fugir de seu domínio e tem medo de se arriscar, de aprender a lidar com situações novas.
Fecha-se por acomodação e descrédito, em especial em relação a escolaridade, pois a literatura especializada também afirma e confirma crenças socialmente difundidas que deficientes mentais somente serão capazes de um aprendizado escolar mínimo, pois são mentalmente incapazes e, portanto, merecedoras de um tratamento especial que impõe restrições que acabarão por imprimir marcas na relação entre o outro e ela.
Com ajuda da literatura que tivermos acesso, lá na formação, na antiga escola normal, nós acabamos por estigmatizar o aluno portador de deficiência.
Somente conhecíamos o igual e, enquanto alunos e sociedade não conheciam as diferenças. Onde estavam essas crianças? Escondidas?
Não foi nos repassado na escola este conhecimento e quando era, era de forma totalmente deturpada.
Nos dias de hoje, nas escolas regulares, vemos um ou outro aluno com deficiência (cadeirantes principalmente), mas não vemos alunos com atraso mental, surdos, cegos...
Por quê? Os pais não matriculam? A escola não aceita? Os pais reconhecem que as escolas regulares não estão capacitadas?
Penso que o pai de aluno portador de algum tipo de deficiência quer o melhor para seu filho e realmente sabem que as escolas regulares não podem oferecer o que seus filhos precisam: aulas de arte, música, espaço para recreação, pessoal capacitado, trocas verdadeiras e envolvimento efetivo de toda a comunidade escolar. Como foi o caso de Peter.
Peter! Consegui me colocar em todos os papéis, menos de Peter. Conseguimos fazer experiências práticas que envolva deficientes físicos, visuais, auditivos... Mas no que envolve deficiência mental, nós falhamos. Não sabemos, não conhecemos. Se não conhecemos não somos capazes de re-significar a educação. Penso que precisamos de crianças especiais dentro de nossas salas de aula para realmente entendermos os conceitos que estudamos e assim aliar à teoria à prática.

1 comentários:

Anice - Tutora PEAD disse...

Elaine! Ótima reflexão!!!! Conseguiste ter empatia suficiente ao te colocar no lugar de todas as pessoas do filme já imaginando também como seria e é na tua realidade. A partir disso, surgem também muitos questionamentos a respeito. Gostei bastante! Abração, Anice.