O grande problema que envolve alunos com necessidades especiais é identificá-los. Existem alunos que se percebe ao olhar que são alunos portadores de alguma necessidade especial: cadeirantes, alunos com alguma síndrome conhecida, surdos e estes não são os que engrossam as estatísticas de reprovação das escolas.
O problema está na falta de conhecimento do professor para detectar estas dificuldades. E muitos casos de alunos PNE’s passam por professores e escolas sem que estes percebam ou que se detectam suas necessidades: falta de uma avaliação oftalmológica, de um exame áudio-métrico, avaliação neurológica...
O professor não foi preparado, nem de forma prática nem de forma teórica, para lidar com estas múltiplas diferenças que os alunos possam apresentar e tampouco a escola está preparada para dar suporte a estes professores. Para a escola só interessa os níveis de aprovação que a colocarão nos índices governamentais como uma escola de bons resultados. Afinal a escola pública é carente de recursos enviados pelos governos e estes recursos somente virão se os resultados forem muito bons.
Nos cursos de formação o professor está sendo preparado, na maioria das vezes, para ensinar a ler e a escrever. E quando se depara com aluno, ou alunos, que não conseguem avançar na leitura e na escrita o professor logo o rotula como deficiente. Não investiga, ou por falta de tempo ou por falta de conhecimento teórico.
É culpado o professor por não reconhecer a necessidade de determinado aluno?
Não. O erro não está no professor. Está nos cursos de formação que não preparam profissionais que saibam lidar, exigir e lutar pela verdadeira inclusão.
O que vemos hoje são alunos largados dentro de salas lotadas consideradas de alunos normais e professores que não recebem nenhum tipo de ajuda e também não a exigem, pois não conhecem as leis de inclusão.
O professor deveria saber que para ter alunos PNE’s a escola, como instituição, tem que dar suporte e assumir todas as necessidades deste aluno.
Existem muitas leis que amparam os alunos com necessidades especiais e pouca ou nenhuma fiscalização que façam que estas leis sejam cumpridas. O professor sabe que existem leis para inclusão, mas não sabe que esta mesma Lei está a favor do professor e do aluno e não contra.
O que vemos nas escolas são alunos largados a um sistema deficiente e professores sem nenhum conhecimento, ou na pior das hipóteses (e eis onde acontece a verdadeira exclusão!), vontade de fazer a inclusão verdadeira.
Vou citar um caso verdadeiro que ocorre na minha escola: Temos um aluno cadeirante na quarta- série. O J.
Para receber J. e sua cadeira a escola construiu rampas e transformou um banheiro para receber este aluno. Fez isso, pois foi obrigada por lei. Mas J. não vai ao banheiro, por vergonha, tem vergonha de depender da professora ou de outro colega.
A professora nos fala, na hora do intervalo, que ele nem água bebe para não ter que ir ao banheiro. É comum sentir-se o cheiro de urina em J. e na sala de aula.
A inclusão de J. termina aí, na modificação do espaço físico. Não é proporcionado a J. durante o recreio nenhuma atividade, simplesmente ele fica esperando o término do mesmo para voltar à sala de aula, sem brincar e sem interagir com os colegas.
Se a família custa buscá-lo na saída do turno, J. fica sozinho, em sua cadeira, esperando pacientemente que alguém venha buscá-lo. Isso é inclusão?
Perguntei a professora de J. como os coleguinhas se relacionam e vêem J., como ele se sente e se vê em relação à turma, qual o trabalho que ela faz em relação ao ver e co-operar com J.
Ela não soube responder. Ela simplesmente me respondeu que ele é uma criança muito desanimada e pouco interessada em estudar e vir para a escola. “É um aluno muito problemático.”
Com 9 anos , numa cadeira de rodas e portador de distrofia muscular não deve realmente ser algo muito animador! E com uma professora que não consegue se colocar no lugar do outro deve ser muito difícil para J. gostar da escola.
Perguntei também como J. ficava dentro da sala e ela me disse que ele ficava sentado sempre no mesmo lugar.
Ela não tem a iniciativa de promover a inclusão de J. com os outros colegas trocando-o de lugar, inserindo-o no grande grupo, não programa estratégias e práticas alternativas Sabe que J. sente dificuldades em escrever mas não procura meios de melhorar a aprendizagem de J. Sabe que J. gosta de computadores mas não o leva às aulas de informática devido as escadas, mas também não exige um computador para J. usar na sala de aula ( segundo ela estaria excluindo todos os outros). A professora não esta se dando conta que incluir é desacomodar todos os incluídos no processo, é fazer com que todos caminhem nas teias da vida.
Penso que a professora de J. deveria ser a gestora de sua educação e tentar construir para J. uma “tenda” onde ele se sinta acolhido e trazer para a tenda de J. todos os outros alunos.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Construindo tendas
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1 comentários:
Olá, Elaine: fiquei bem chateada ao ler este caso de J. Obviamente este é um entre tantos outros casos, mas ao ler em detalhes essa história ficou cada vez mais visível a falta de capacitação, empatia e apoio a essas pessoas e aos profissionais envolvidos. Muitas mudanças ainda devem ser realizadas. Abraço, Anice.
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